“As estrelas são as grandes forjas do nosso universo. Ao longo de sua existência, elas produzem e espalham pelo cosmos os elementos químicos que conhecemos hoje.” Acho que você já conhece essa frase né, mas dessa vez elas são as “estrelas” do show. Nos seguintes posts trataremos como as estrelas são criadas, os fenômenos que as cercam neste momento de sua criação, e qual rumo sua existência vai tomar, e esse “rumo” está fortemente ligado á massa com que ela é formada.
A imagem acima será nossa bússola mental para explorar a história do ciclo estelar. Para dar o pontapé inicial em nossa jornada começaremos com uma pergunta: como uma estrela se forma?
Nuvem molecular / nebulosa escura
As nuvens moleculares são enormes aglomerações de gás e poeira interestelar, compostas principalmente por hidrogênio molecular (H₂), além de poeira cósmica e pequenas quantidades de outros elementos e moléculas. Elas representam uma das fases mais densas e frias do meio interestelar, com temperaturas que normalmente ficam entre 10 e 30 Kelvin, o que permite que os átomos de hidrogênio se combinem em moléculas.
Essas nuvens surgem a partir da acumulação de gás e poeira em regiões mais frias e densas da galáxia. A ação de choques gravitacionais, ondas de densidade geradas pelos braços espirais da galáxia, explosões de supernovas e ventos estelares de estrelas massivas podem comprimir partes do meio interestelar, desencadeando o acúmulo de material e o resfriamento necessário para que se formem grandes nuvens moleculares.
Uma vez formada, uma nuvem molecular pode permanecer estável por milhões de anos. Contudo, pequenas regiões dentro dela podem se tornar gravitacionalmente instáveis se a densidade local ultrapassar um valor crítico, conhecido como massa de Jeans. Quando isso acontece, essas regiões começam a se contrair sob sua própria gravidade, dando início ao processo de formação estelar.
Durante essa contração, a nuvem fragmenta-se em núcleos densos, que continuam a colapsar. À medida que o material se concentra, a pressão interna e a temperatura aumentam no centro desses núcleos. Quando a temperatura atinge valores da ordem de alguns milhões de Kelvin, as reações nucleares de fusão do hidrogênio começam — marcando o nascimento de uma protoestrela.
Enquanto a protoestrela se forma, parte do material que a circunda pode não cair diretamente nela. Em vez disso, esse material forma um disco protoplanetário ao redor da jovem estrela, devido à conservação do momento angular. É dentro desse disco que podem se formar planetas, luas, asteroides e outros corpos menores, originando um sistema estelar completo.
Assim, o ciclo de vida de uma nuvem molecular — de uma região fria e escura do espaço a um novo sistema de estrelas e planetas — é um dos processos fundamentais que renovam e enriquecem a galáxia com novas gerações de astros.
Quando uma estrela chega ao final de sua vida, ela devolve grande parte de sua matéria ao meio interestelar. Dependendo da massa da estrela, isso ocorre de formas diferentes:
- Estrelas de massa baixa ou intermediária (como o Sol) terminam suas vidas formando nebulosas planetárias. Nessas estrelas, as camadas externas são expelidas suavemente quando o núcleo não consegue mais manter as reações de fusão. Esse material, rico em elementos como carbono, oxigênio e nitrogênio, se expande para o espaço, criando uma bela concha luminosa de gás ionizado ao redor de uma anã branca quente.
- Estrelas massivas têm um final muito mais explosivo: uma Supernova. Nesses casos, o núcleo colapsa violentamente, gerando uma onda de choque que ejeta as camadas externas da estrela a velocidades altíssimas. Esse material é riquíssimo em elementos pesados, como ferro, silício, cálcio e outros produtos da nucleossíntese estelar.
Quando o material expelido por nebulosas planetárias ou supernovas se espalha pelo meio interestelar, ele se mistura com o gás e a poeira já existentes. Com o tempo, essa matéria enriquecida contribui para aumentar a densidade local em certas regiões do espaço.
Além disso, as ondas de choque geradas pelas explosões de supernovas são gatilhos poderosos para comprimir nuvens de gás difusas próximas, favorecendo a formação de novas nuvens moleculares. O choque pode empurrar o gás, resfriá-lo e aumentar sua densidade até o ponto em que ele se torna frio e denso o bastante para formar moléculas, principalmente hidrogênio molecular (H₂).
Dessa forma, o material reciclado pelas gerações anteriores de estrelas se torna matéria-prima para novas estrelas e planetas. Esse ciclo é essencial para o enriquecimento químico da galáxia: sem as gerações anteriores, o gás interestelar seria composto basicamente de hidrogênio e hélio primordiais, mas hoje ele contém carbono, oxigênio, silício, ferro e outros elementos que tornam possível a formação de planetas rochosos e, consequentemente, a vida como conhecemos.
Portanto, o que sobra de uma nebulosa planetária ou de uma supernova pode, após milhões de anos, se tornar parte de uma nova nuvem molecular, reiniciando o ciclo da formação estelar e mantendo a galáxia em constante renovação.
Uma análise quantitativa da formação e transformação de uma nuvem molecular!
Vamos falar agora sobre números e a ciência por trás da coisa, o meio interestelar é composto basicamente por gás (~99%) e poeira (~1%). A densidade média do meio interestelar é muito baixa: cerca de 1 átomo/cm³. Para formar uma nuvem molecular, a densidade precisa subir para valores típicos de 100–10.000 moléculas/cm³. A compressão pode ser causada por:
- Ondas de densidade nos braços espirais ( Teoria das ondas de densidade – Lin & Shu, 1964).
- Ondas de choque de supernovas [ Uma teoria do meio Interstelar (Harvard) – McKee & Ostriker, 1977].
- Efeitos gravitacionais em aglomerados.
A equação que descreve a instabilidade gravitacional é a massa de Jeans, derivada por Sir James Jeans em 1902:
Diversos destes conceitos são abordados em livros como The Mysterious Universe e Physics and Philosophy , de James Jeans, e também Astrofísica para apressados, de Neil deGrasse Tyson . Quando a nuvem excede a massa de Jeans, ela colapsa. O tempo de colapso pode ser estimado pela escala de tempo de queda livre:

Portanto, uma região densa leva algumas centenas de milhares de anos para formar uma protoestrela. À medida que o núcleo colapsa, o momento angular faz com que o material forme um disco protoplanetário. As equações de conservação de momento angular são cruciais aqui (Lynden-Bell & Pringle, 1974). A pressão térmica, viscosidade turbulenta (Shakura & Sunyaev, 1973) e campos magnéticos determinam como o material migra para a protoestrela ou forma planetas; portanto, o ciclo de formação de nuvens moleculares é um equilíbrio dinâmico entre compressão gravitacional, feedback energético de estrelas e processos galácticos em larga escala.
Para continuarmos, teríamos que falar sobre os processos que ocorrem nessa dada “Protoestrela”, e este assunto fica para nosso próximo post.
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